terça-feira, 17 de setembro de 2013

Quanto nós valemos? (Parte 2)

                                                                                                           Gabriela Biló/AE


 Há pouco mais de um ano, tive um “insight” e resolvi postar aqui um texto em que comparei um suicídio e assassinatos em massa em circunstâncias relativamente distantes, mas que, para mim, tinham suas similaridades.  Assim como a maioria das coisas que faço no ímpeto, fiquei com a vontade de retirar aquele texto falando de um assunto tão delicado e duro ao mesmo tempo. Poxa: não sou psicólogo nem filósofo, tampouco sociólogo. Apenas era um rapaz passando por um curso de jornalismo, uma área em que você começa humildemente como um “especialista em nada”, mas precisa ter uma visão panorâmica sobre tudo.
Voltando ao presente, não só vi como foi bom manter o texto intacto assim como me senti na obrigação de aproveitar o espaço para escrever uma espécie de continuação. No final da tarde de ontem, estava eu a pensar sobre coisas diversas do meu dia, quando me dei conta de que era a oportunidade de fazer mais uma dessas ligações entre fatos. E os temas são mais uma vez os mesmos que me moveram para escrever aquelas palavras no ano passado: suicídio e assassinato. E o caso mais recente, ao menos até onde vai meu conhecimento, envolve aquele da mãe que assassinou as duas filhas adolescentes e ainda o cachorro em uma casa de classe média em São Paulo. Ela tentou se matar ao final, sem sucesso. 
Quem leu o primeiro texto, já sabe que nem preciso me alongar sobre este caso e comentar a barbaridade dos assassinatos, mas aproveitando o gancho do elemento animal também morto, fiz uma relação com uma situação ocorrida na manhã de ontem. Estava eu em uma fila de um serviço de atendimento a animais quando pude ouvir diferentes histórias de pessoas que têm seus companheiros de quatro patas em casa, sobretudo cães e gatos. Relatos muito positivos e de dar orgulho, como o de uma senhora, que disse que ela e seus filhos sempre ajudam os bichanos que aparecem necessitados em sua vizinhança. Outras histórias, no entanto, soavam como as mais desprezíveis. Uma senhora grosseira, que estava com sua nora (esta com uma evidente antipatia pela sogra, o que de imediato eu compartilhei), falava sobre ter fobia a gatos e que os mataria se aparecessem por perto. Indignado por dentro diante de tamanha falta de respeito com a vida, eu acabei perdendo a oportunidade de me expressar e defender o valor de criaturas que sim valem muito mais que as medíocres que andam por aí se achando no direito de serem tratadas como cidadãs, quando na verdade estão mais para seres repulsivos e de pensamentos arcaicos. Por que gente assim não vai tratar sua mente insana em vez de tirar a vida de seres que têm tanto o igual direito de viver? Fico mesmo descrente com a humanidade quando cruzo com certo tipo de “pessoa” com quem sou obrigado a dividir o barco nesta complexa navegação chamada vida. Deu pra perceber uma certa relação entre os dois casos?
E ainda dando continuidade ao raciocínio para traçar mais um paralelo, a semana começou com outra notícia importante relacionada à temática da violência: aquele atirador (ou mais de um) que conseguiu vitimar pessoas dentro de uma base militar nos Estados Unidos da América. Sim, o país mais “poderoso” do mundo, aquele que há alguns dias falava sobre atacar a qualquer custo a Síria. Uma ação em circunstâncias e com propósitos duvidosos em uma região já abalada por conflitos há tempos.
Não importa se é família, amigo, estranho ou outra espécie de animal (ainda insistem em não classificar o homem nessa categoria, para bem e para mal). Violência é crueldade e o sangue é sempre vermelho. Será que temos missões de bondade para completar por aqui ou tendemos a ficar como aquela protagonista do filme “Dogville”, do Lars Von Trier? Depois de tanto assistirmos à violência e sermos nós vítimas da opressão, ficaremos anestesiados ao sofrimento, como cúmplices, e ainda torcendo para que haja uma espécie de vingança sabe-se lá de quem? Questão complexa, mas acho que precisamos parar mais para pensar sobre isso.
Alguém nos assiste? Volto a repetir a pergunta: quanto nós valemos?