quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O que terá acontecido na 246 ontem à noite?




A melhor oportunidade profissional na vida de Steven fez com que a família Hellyor se mudasse para uma bela casa em Nova York. Ao fundo havia uma imensa floresta escura. Mas não era de lá que vinha o perigo.


"Pilotando despreocupadamente, Veronica chegava à rua para o primeiro dia novamente com os Hellyor. A movimentação era gritante. Viaturas policiais misturavam-se a veículos de imprensa com seus respectivos profissionais, os moradores da rua e outros curiosos ao redor. Isolada a 246 com as faixas de isolamento, Veronica estacionou sua moto alguns metros do local de trabalho, até se dirigir a um homem que parecia coordenar no meio da aglomeração. Era o inspetor Matthew Lambert, um sujeito loiro, por volta de 50 anos, um cigarro em uma das mãos e o celular na outra. A pequena funcionária da casa, sem se concentrar em qualquer pessoa ao redor, tentava obter a atenção do inspetor.
_ Bom dia... – pareceu não obter retorno, mas foi atendida rapidamente.
_ Bom dia. Posso ajuda?
_ Sim, eu sou Veronica Borkman. Funcionária da casa. O que houve aí, meu Deus?
_ Venha – o homem não perdeu tempo e afastou-a da zona de barulho.
_ O que...
_ Dois homens mortos nesta casa. Criminosos. Não se preocupe.
_ Nossa... Mas... eu estive ali ontem. Que horror.
_ Menos dois bandidos no mundo. Limpeza divina – uma senhora de roupas coloridas, desconhecida para Veronica, interveio na conversa.
_ Mas o que houve? Foi a polícia que matou? Foi isso?
_ Não. Não sabemos de qualquer detalhe. Estamos investigando. Os vizinhos me informaram que a família está em férias. Certo?
_ Sim, eles voltam hoje. Eu deixei a casa preparada ontem. Jesus, esta rua é o lugar mais calmo que conheço. Já presto serviço aqui faz mais de 10 anos.
_ Achamos melhor não ligar pra eles. Não queremos criar pânico. Desagradável até pra nós que lidamos com isso. Agora preciso voltar, moça. Com licença.
Olhando para todos os seus conhecidos vizinhos ao redor, Veronica não teve vontade de se aproximar de qualquer um deles, via-os como estranhos prontos a devorá-las com seus globos oculares arregalados e perguntas que ela não saberia dar qualquer resposta. Sentia-se como a mais próxima da família Hellyor no momento, o único elo possível. Ruth, de braços dados a Robert, uma preocupação pouco habitual para seu padrão de comportamento. Notou que Anne trazia o semblante cômico e preocupado ao mesmo tempo, segurando um de seus bichanos, próxima do misantropo Albert, visto na rua depois de semanas escondido em seu único refúgio.
Veronica, o corpo abalado e as mãos fracas, apoiou-se em um poste, metal frio, sentia a cabeça girar, uma espécie de culpa não sabia o por quê. Gostaria de saber responder a alguma das perguntas do inspetor e, mais ainda, saber usar as palavras certas para tranquilizar a família antes de sua volta. Talvez eles já estivessem sabendo, imaginou. Quem eram os homens que sabiam exatamente a hora que ninguém estava ali? - ficava se perguntando. - E como eles morreram?"


E os trechos dos últimos capítulos sairão em breve... Não perca...

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A loucura da esperança




Ser otimista soa como tolice ou ingenuidade hoje em dia. E o pessimista é visto como o chato, amargo e desiludido. Então, o que nos resta quando temos uma série de motivos para achar que as coisas não estão dando certo em aspectos importantes de nossas vidas? Da crise política e econômica que nos preocupa e irrita diariamente em todos os meios de comunicação até os problemas mais banais de trânsito, convívio social, contas que vão vencer... E ainda precisamos saber o que fazer com os sonhos, projetos, vida amorosa... -coisas que, teoricamente, poderiam ser deixadas de lado temporariamente. Viver está mais difícil ou estamos ficamos preocupados demais?
A obsessão com as mensagens que mandamos e aguardamos retorno, a resposta da entrevista de emprego, a aprovação na prova, a meta da casa própria etc. Sem contar a nossa autoestima. Preciso estar bem comigo mesmo e deixar isso claro?! Sem dúvida, vivendo um momento sem precedentes, em que pessoas de diversas idades sentem uma necessidade de mostrar que são proativas, interessantes, com qualidades acima da média. E para constatar um dos efeitos dessas paranoia basta ler matérias e pesquisas alertando sobre o aumento no número de pessoas que procuram ajuda para lidar com depressão, ansiedade e uma porção de questões ligadas à parte psicológica. Os medicamentos de tarja preta nunca estiveram tão na moda. Dorme pouco? Toma remédio. Quer emagrecer? Toma remédio. Seu filho é agitado: dá remédio. Quer "fugir" da realidade: tome remédio. E há os que seguem para o caminho das drogas ilícitas (receita?) ou para o outro que nem preciso dizer qual é. Mas, enfim, isso já é algo mais sério e para especialista.
Só não gostaria de deixar de aproveitar este momento pelo qual passamos, com tantas incertezas (talvez certezas demais também) e mudanças tão rápidas que estão assustando muita gente. Aonde vamos parar com o demasiado uso da tecnologia, informação rápida e necessidade de satisfação, a tal falada "felicidade"?
Intelectuais odeiam os famosos livros de autoajuda, mas quem nunca se pegou lendo e compartilhando frases de efeito otimista? Se estou aqui e e sei que vou morrer um dia, pra que investir na vida? O famoso sentido da existência que permeia as discussões milenares de religiosos e filósofos. Mas não é pra dar respostas que falamos sobre isso. Acho que queremos apenas ver pessoas compartilhando das mesmas angústias existenciais em espaços como este. Sei que há muitos que, assim como eu, pensam diariamente nessas questões e buscam seguir em frente, tentando ficar à vontade num mundo que, friamente, resume-se a crescer, estudar, trabalhar, ter seu espaço físico, constituir família, envelhecer e morrer. Fórmula fácil, talvez.
A imagem no topo e o trailer abaixo são do filme "Delírio de Loucura" lançado no cinema americano em 1956 (!), provando que a tal busca de bem-estar em meio ao caos social, definitivamente, não é coisa de agora. O filme conta a história de um professor de classe média que se torna dependente de uma droga "milagrosa", o que, por sua vez, afeta muito sua relação com a família. A obra encontra-se disponível no mercado de vídeo no Brasil. E seguimos refletindo neste maravilhoso estranho mundo, sem esperar por pílula mágica.