sábado, 25 de agosto de 2012

Quanto nós valemos?





Enquanto zapeava na manhã de ontem, acabei parando em um canal que exibia algo chamado ‘Boy Interrupted’. O título não me chamou atenção a princípio, mas quando vi a sinopse, não consegui mais tirar os olhos. Era um documentário que falava da vida de Evan Perry, um adolescente nova-iorquino que se matou em 2005. 
A obra foi produzida pelos pais do garoto e mostrava imagens e vídeos do jovem, acompanhados por muitos depoimentos de seus familiares e amigos. Um tanto duro de assistir, mas me fazendo o tempo todo imaginar como deve ter sido uma vida difícil de viver e de lidar. Um jovem que, desde pequeno, já aparentava transtornos de personalidade, tinha pensamentos adolescentes demais para uma criança e uma fixação excessiva pela morte (presente em suas falas, canções e textos de ficção). Ele foi diagnosticado com transtorno bipolar, recebeu todo tipo de atendimento e medicação, mas acabou sucumbindo ao que já fora previsto em sua curta trajetória.
Ao final da mesma manhã, abrindo um site de notícias, vi em destaque a condenação a 21 anos de prisão do atirador da Noruega, Anders Breivik. Responsável pelo assustador número de 77 assassinatos numa ilha ano passado, ele recebeu a sentença com um sorriso. Monstro, psicopata, demônio... Algumas dessas palavras são as que logo nos ocorrem quando nos deparamos com esse tipo de crime. Ao ler sobre suas motivações, me lembrei de um certo sujeito que era dono de uma aversão tão grande e, defendendo a chamada ‘raça pura’, conseguiu comandar a Alemanha no século passado. É estranho para nós brasileiros, um povo miscigenado, mas estrangeiros numa terra originalmente de brancos ainda ‘conseguem’ levar uma pessoa a cometer barbáries.
Não tenho nenhuma pretensão de tentar entender as causas ou buscar culpados em casos assim, mas o que consigo perceber em comum são formas bem distintas de raiva em cada um deles. Uma é aquela que foi internalizada e usada contra si próprio ao não se conformar com uma vida enxergada como infeliz, um sofrimento vindo de não se sabe onde – aquele mal chamado depressão. A outra forma me parece aquela de uma mente condicionada rigidamente a não aceitar as diferenças, de se prender somente as suas crenças limitadas e ver em outros simples seres humanos uma ameaça em potencial ao seu estilo tradicional de vida.
Os dois casos que citei estão ligados pelo tênue fio da morte, aquela única certeza que todos temos que vai acontecer um dia. E basta vermos os noticiários que sempre acabamos por encontrar diariamente os traços de semelhança com aqueles ocorridos. Parece que nós já nos acostumamos, por exemplo, que judeus e muçulmanos entram em atrito todo dia e que algo sempre vai explodir no Oriente Médio.  Assim como quando ouvimos a notícia de alguém que se matou e somos remetidos frequentemente à figura do louco ou do cara que perdeu tudo e não quis mais viver.
Será que a desesperança causada por essas tragédias afeta e influencia diretamente tanto a pessoa que já sente o valor de sua vida diminuído quanto aquela que acha que vale mais que as outras? Olhando ao redor, estamos, grande parte, envoltos numa rotina que se parece cada vez mais com uma corrida. São tantos pensamentos mergulhados em trabalho, dinheiro, sons, máquinas, tempo, frieza, consumo... Quem vence? O que é vencer? O que vai acontecer se eu não vencer?
Em meio a isso, vejo surgir uma simples questão: qual o valor da vida de todos nós?

sábado, 11 de agosto de 2012

Tempestade de interesses




O bem comum é sempre mostrado nas propagandas políticas no Brasil e nos regimes democráticos pelo mundo como um dos principais objetivos a serem cumpridos por aqueles que se dizem dispostos a assumirem a liderança. Agradar (ao menos ‘tentar’) a todos é uma tarefa árdua, considerando tantos desafios e necessidades muito distintas de uma população. Mas, até que ponto o intuito de um governante é realmente esse?
Tomando como referência o mundo nos últimos 100 anos, podemos perceber uma infinidade de casos em que a aparente boa vontade de aspirantes a líderes encheram de esperança povos desestruturados. Inúmeras guerras e golpes políticos afetaram e desestruturaram nações inteiras e, o que parecia um sonho de melhorias, tornou-se o caos e gerou instabilidade para quem esperava justamente o contrário.
Isso nos revela que (mesmo nem sempre pregando abertamente essas ideias) os líderes políticos na verdade se usam da máquina eleitoral (e consequentemente de sua posição conquistada) para perpetuarem a ordem e os conceitos com os quais se identificam. Esse comportamento vai afetar diretamente a coletividade, a mesma que os confiou o poder para trazer o bem comum.
Todas as atitudes individuais ou de um pequeno grupo que atingirem os interesses do governo poderão de algum modo ser rechaçadas. O medo de uma iminente insurgência popular parece ser o mesmo da chegada de uma praga, algo como uma ameaça a um estilo de vida confortável e seguro. O mundo tem visto nessas últimas décadas, mesmo nas nações mais democráticas e liberais, como uma pequena fagulha pode ser apagada com o mais violento dos sopros.
O poder do Estado muitas vezes é associado com o poder à base da força para reprimir aquilo ao qual não deixará se sujeitar. Aqueles que denunciam ações sujas do governo são reprimidos para não deixarem suas informações passarem, os drogados são mostrados como a escória que deve ser eliminada das ruas para não putrefazer a sociedade, os considerados loucos são isolados dos demais ‘normais’... Uma rede de interesses que parte de quem comanda um povo.
Tudo isso nos permite inferir que a ideia do melhor para todos é apenas o ponto de partida nos discursos políticos, mas que, depois disso, se torna como algo perdido no meio de uma tempestade em que os governantes têm o total controle sobre os rumos de uma nação. Para conquistar o que desejam e manter a ordem do qual se beneficiam, eles se usam dos métodos que estiverem à disposição e passam a agir com base em seus próprios pensamentos, atingindo qualquer um que ‘resolva’ ou tenha o infortúnio de ficar na frente.