Certas
esperas na vida nos fazem pensar se realmente vão resultar em algo ou se seria
como na famosa peça de Beckett, algo em vão. Estamos sempre correndo atrás,
mesmo quando não fazemos qualquer coisa. O tempo do encontro, da ligação, da
resposta, da oportunidade, a confirmação ou a negação, o sucesso ou a
frustração. Corremos por diferentes linhas diariamente e não nos damos conta de
que a caminhada é reta, impossível de haver um retrocesso.
Os
ponteiros e calendários perseguem e torturam propositalmente. E concordamos com
isso. “O Feitiço do Tempo” (1993), ou “O Dia da Marmota”, em tradução literal do
título do filme, permite que vejamos uma instigante possibilidade da vida. E se
acordássemos um belo dia e víssemos que estamos vivendo absolutamente o mesmo
dia de ontem? Um tanto curioso, mas o que faríamos de diferente na nossa
rotina, no nosso comportamento, na forma como cumprimentamos, respondemos a
estímulos, tomamos atitudes inesperadas exigidas no curso das horas que se seguem
após levantarmos da cama?
Agimos
de forma automática e deixamos passar detalhes e sutilezas que nos escapam pela
forma fria como optamos por viver diante da correria de nossas vidas ordinárias.
Isso é inevitável. Todos passamos por isso. Quantas noites sequer reparamos que
a lua é cheia e das mais belas, do tipo que uma criança sonharia se era de
queijo ou se seria possível enxergar São Jorge e o dragão... A ingenuidade e a
fantasia que tantas vezes deixamos morrer por medo de julgamentos adultos e
“intelectualizados”.
O
tempo passa. 15, 18, 20, 30, 40, 50 anos... E há pessoas que tendem a esconder
ou mentir suas idades, uma vergonha tola da trajetória que têm. Deveriam mais
que ter orgulho de ter passado por tantas experiências, de ter superado os
desafios e se aventurado por mares bravios nunca dantes navegados! Afinal, um
dia a passagem no navio vai vencer e a gente vai ter que desembarcar de
qualquer forma. Não vai ter revogação, não adianta insistir e muito menos
esperar pelo Dia da Marmota. E se Godot não aparecer? C’est la vie.