sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A loucura da esperança




Ser otimista soa como tolice ou ingenuidade hoje em dia. E o pessimista é visto como o chato, amargo e desiludido. Então, o que nos resta quando temos uma série de motivos para achar que as coisas não estão dando certo em aspectos importantes de nossas vidas? Da crise política e econômica que nos preocupa e irrita diariamente em todos os meios de comunicação até os problemas mais banais de trânsito, convívio social, contas que vão vencer... E ainda precisamos saber o que fazer com os sonhos, projetos, vida amorosa... -coisas que, teoricamente, poderiam ser deixadas de lado temporariamente. Viver está mais difícil ou estamos ficamos preocupados demais?
A obsessão com as mensagens que mandamos e aguardamos retorno, a resposta da entrevista de emprego, a aprovação na prova, a meta da casa própria etc. Sem contar a nossa autoestima. Preciso estar bem comigo mesmo e deixar isso claro?! Sem dúvida, vivendo um momento sem precedentes, em que pessoas de diversas idades sentem uma necessidade de mostrar que são proativas, interessantes, com qualidades acima da média. E para constatar um dos efeitos dessas paranoia basta ler matérias e pesquisas alertando sobre o aumento no número de pessoas que procuram ajuda para lidar com depressão, ansiedade e uma porção de questões ligadas à parte psicológica. Os medicamentos de tarja preta nunca estiveram tão na moda. Dorme pouco? Toma remédio. Quer emagrecer? Toma remédio. Seu filho é agitado: dá remédio. Quer "fugir" da realidade: tome remédio. E há os que seguem para o caminho das drogas ilícitas (receita?) ou para o outro que nem preciso dizer qual é. Mas, enfim, isso já é algo mais sério e para especialista.
Só não gostaria de deixar de aproveitar este momento pelo qual passamos, com tantas incertezas (talvez certezas demais também) e mudanças tão rápidas que estão assustando muita gente. Aonde vamos parar com o demasiado uso da tecnologia, informação rápida e necessidade de satisfação, a tal falada "felicidade"?
Intelectuais odeiam os famosos livros de autoajuda, mas quem nunca se pegou lendo e compartilhando frases de efeito otimista? Se estou aqui e e sei que vou morrer um dia, pra que investir na vida? O famoso sentido da existência que permeia as discussões milenares de religiosos e filósofos. Mas não é pra dar respostas que falamos sobre isso. Acho que queremos apenas ver pessoas compartilhando das mesmas angústias existenciais em espaços como este. Sei que há muitos que, assim como eu, pensam diariamente nessas questões e buscam seguir em frente, tentando ficar à vontade num mundo que, friamente, resume-se a crescer, estudar, trabalhar, ter seu espaço físico, constituir família, envelhecer e morrer. Fórmula fácil, talvez.
A imagem no topo e o trailer abaixo são do filme "Delírio de Loucura" lançado no cinema americano em 1956 (!), provando que a tal busca de bem-estar em meio ao caos social, definitivamente, não é coisa de agora. O filme conta a história de um professor de classe média que se torna dependente de uma droga "milagrosa", o que, por sua vez, afeta muito sua relação com a família. A obra encontra-se disponível no mercado de vídeo no Brasil. E seguimos refletindo neste maravilhoso estranho mundo, sem esperar por pílula mágica.




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