segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Público brasileiro: subestimado ou idiota?



Falar de televisão sempre rende discussões sob os mais diferentes ângulos... Popularesca, vulgar, alegre, vagabunda, idiota... Enfim, se qualquer um sair por algum colhendo opiniões vai ouvir adjetivos similares a esses ou muito piores. Mas resolvi escrever por dois motivos principais: pela péssima qualidade da maioria dos programas que tenho assistido na TV aberta nos últimos meses e por matérias que tenho lido e que me dão gotas de esperança quanto ao futuro desta mídia tão (ainda?) popular no Brasil.
Não quero “dar nome aos bois”, para, inclusive, não fazer propaganda destes veículos que usam e abusam do direito à concessão pública que é a televisão. Isto significa, pra quem ainda não sabe, que o direito a ver determinado canal gratuitamente não é como um favor que os “bondosos” magnatas da comunicação estão lhe fazendo. Eles têm uma série de obrigações a cumprir, como incluir programação jornalística, conteúdos regionais, limitar o tempo de comerciais e aplicação de capital estrangeiro...
O problema é que, como muita coisa regida por legislação no Pindorama, não é cumprida com rigor. Tem uma emissora das mais conhecidas do país, por exemplo, que passa aproximadamente metade de toda a sua programação diária exibindo produções comerciais e programas de igrejas (o que não deixa de ser comércio também, já que estão sempre vendendo algo para seus fiéis). Para piorar e deixar nós espectadores mais revoltados, é que a outra metade da programação dessa emissora é composta por programas medíocres, apresentados por gente mais medíocre ainda, que entrou na televisão não se sabe como e ainda se mantém por conta da imagem vinda dos tempos de outrora, quando era mais fácil gente sem talento se dar bem na telinha. Tem “pseudoartistas” dando entrevistas diariamente, mulheres dos patrões se metendo a Hebe Camargo (essa sim era digna e faz muita falta), apresentador sensacionalista que traz atores para simular casos constrangedores diariamente (de fazer os educadores arrancar os cabelos de vergonha) e faz o público mais “ignorante”, digamos, cúmplice de suas idiotices. Como canais assim conseguem sobreviver no ar e não perder a concessão? E pensar que tem vários outros em situação similar...
Citei essa emissora em particular (deu pra sacar qual é, né?) porque representa brilhantemente agravantes vistos com frequência nas demais do país. Mas é claro que não para por aí... Alguém, com um mínimo de senso crítico, consegue aguentar várias horas seguidas de dramalhão mexicano todo dia? As dublagens sofríveis conseguem acentuar ainda mais a canastrice daqueles atores que são caricatos até na maquiagem? Pode cair um meteoro em São Paulo, mas a emissora está ali concentrada em sua missão de “educar” o espectador com seus melodramas do tipo Maria Guadalupe e seu amor impossível por José Rodolfo Antônio...
Por falar em telenovelas (maldito estereótipo de que “brasileiro ama novela”!), tem, é claro, outra da emissora ainda vista como a mais “importante” do país (seja lá o que esse velho título possa significar em tempos de revoluções digitais constantes). Na trama mais “adulta” deste canal, tem uma gordinha empurrada por todos para perder a virgindade (o que os outros têm a ver com a intimidade alheia?) e é humilhada sempre por seu peso. Sou e sempre fui magrelo e mesmo assim me sinto ofendido com tais falas agressivas. Pior ainda é ver o autor dessa novela, um senhor nitidamente gay (sério?), colocar um vilão homossexual dos mais afetados e perversos. Que ótima forma de lutar contra o preconceito e os estereótipos em rede nacional, senhor autor! É com esse tipo de conteúdo que tal emissora se preocupa em mostrar em um horário tão assistido?
Obviamente (e infelizmente para os gananciosos donos das emissoras), o público jovem dos anos 2010 já passa a maior parte do tempo na internet, em dispositivos móveis ou na TV por assinatura (e até mesmo usando os três juntos). Mas os canais abertos estão ali e volta e meia voltamos a eles. Em tempos de uma audiência cada vez mais independente e disposta a montar sua própria programação (viva o Netflix!), é bom que as emissoras brasileiras movam logo seus pauzinhos e fiquem espertas, porque, caso contrário, ficarão todas deixadas para trás em tempos de um mundo que traz novidades mais rapidamente que a mudança de canal pelo controle remoto. E não me venham com aquela velha história de que se o telespectador está insatisfeito, é só mudar de canal. Até porque do jeito que está, fica difícil ter pra onde correr!

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