segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A morte é bem viva



Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva - viva!
(Cazuza - música "Boas novas")


Hoje comemoramos por aqui o Dia de Finados, ou Dia dos Mortos. Evento marcado, sobretudo, pela lembrança dos que já estiveram ao nosso lado, em tom saudosista e muitas vezes melancólico. Porém, em culturas como a mexicana, o dia é comemorado em cores vibrantes com festas de tradição indígena que procuram celebrar os mortos de uma forma alegre. Em meio a diferenças culturais e religiosas das mais variadas, a obsessão do homem pela morte é um dos temas mais recorrentes na filosofia e na literatura. Afinal, o que acontece depois que saímos daqui? Continuidade em outra dimensão, reencarnação ou simplesmente o fim total, como uma máquina que para de funcionar e nunca mais voltará?
Pegando desde uma obra clássica como a "Divina Comédia", de Dante Alighieri, e sua icônica divisão em Inferno, Paraíso e Purgatório, até o desespero de um homem tentando trazer seu filho e mulher mortos de volta à vida em "O Cemiterio" (livro de Stephen King e filme lançado em 1989 - foto acima), só viver não se mostra suficiente para nós. Precisamos saber se vale a pena acreditar na transcendência da matéria ou apenas que a vida é difícil e não há solução se não o conformismo de que não podemos mudar o que não depende de nós? 
A finitude ou não da vida neste planeta é um tormento que divide religiosos, céticos, médicos, cientistas e tantos outros que sentem um fascínio na busca por essa resposta. Hora marcada ou simplesmente acaso? Podemos procrastiná-la através de ações diárias ou viver despreocupadamente, já que mais cedo ou mais tarde ela vai chegar? Referência perfeita é o duelo de xadrez entre um cavaleiro e a Morte em "O Sétimo Selo" (1957), uma das obras-primas do cineasta Ingmar Bergman, artista que se aproveitou muito bem da angústia existencial e o eterno conflito entre homem e Deus.
Coincidentemente, os dois últimos livros que li também flertam com o fim da vida diretamente. Em "A Morte de Ivan Ilitch", de Tolstói, o personagem principal é um típico burocrata russo que achava que levava uma vida digna, com os valores de uma pessoa de elite, vivendo para agradar os outros. Mas ele percebe que se sente mesmo vazio, incluindo um casamento infeliz, enquanto agoniza de uma enfermidade e vê a cara da morte cada vez mais próxima.
A obra seguinte, também notável, é "Os Sofrimentos do Jovem Werther", do alemão Goethe. O livro é composto, em sua maioria, por cartas que o protagonista envia a seu amigo relatando  experiências profissionais, visões de mundo e o principal: sua imensa paixão por uma moça que está para se casar. E é justamente esse amor quase impossível, doloroso, que leva o jovem a entrar num estado de depressão e afastamento da realidade, culminando no que nem preciso dizer o que é.
Aproveitei essas pequenas analogias para falar sobre esse assunto que me intriga tanto. Não faço ideia do que acontece depois do aqui, mas sigo tentando e nada melhor do que ler bons escritores e escrever um pouco de vez em quando sobre o tema para compartilhar essas inquietações. E seguimos. Vivos.




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